Dizem que após uma grande perda, uma grande desilusão, um momento traumatizante, todos nós passamos pelo mesmo, os "estádios da dor".
São enumerados sete estádios:
- O Choque e a Negação - há um primeiro momento de choque, em que não se acredita no que acabou de acontecer, e segue-se a negação da realidade para evitar a dor.
- Dor - este é aquele momento em que a protecção cai e tudo o que estávamos a tentar esconder vem à tona. É aquele momento em que se sente as pontadas da dor e que a cada passo aumentam a sua investida.
- Raiva/Revolta - quando finalmente conseguimos descalçar a dor, vestimos a raiva, a frustação, e revoltamo-nos contra tudo e todos, até mesmo contra nós próprios.
- Isolamento - Começamos a afastar-nos de tudo aquilo que era rotineiro na nossa vida, e de tudo o que nos faz relembrar. Não saímos de casa com frequência e entramos numa bolha intocável e impossível de rebentar.
- Depressão - este é o estádio de reflexão mais profunda. Aquele em que reflectimos sobre tudo o que aconteceu, aquele momento em que compreendemos a magnitude da nossa perda e deixamos que toda a nossa tristeza, todo o nosso desespero, e toda a nossa revolta inundem o nosso pensamento, deixando-nos vazios no peito.
- A Reviravolta - neste estádio começamos a querer melhorar, a querer seguir em frente. Ficamos mais calmos e a depressão começa, aos poucos, a evaporar-se do nosso corpo.
- Aceitação - Este é o momento em que finalmente aprendemos a aceitar e a lidar com o que se passou. A partir daqui, seguimos em frente.
Eu, por exemplo, depois do "click" ter-se revelado um grande erro (o que era de esperar), dei por mim a experienciar um tumulto de emoções. É que a esta desilusão acabou por se juntar a perda (de estes queridos, de sonhos) e alguns momentos traumatizantes da minha infância (bullying). Parece que, como nenhum destes últimos teve o seu devido velório, decidiram juntar-se ao da desilusão.
Eu passei apenas por quatro estádios:
- Negação - não acreditava, ou não queria acreditar, no facto de haver pessoas capazes de magoar insensivelmente as outras e de o fazerem repetidamente sem qualquer peso na consciência.
- Depressão - quando realmente me apercebi de tudo, senti-me vazia. Nada fazia sentido. A única coisa que conseguia sentir era uma profunda tristeza e uma vontade enorme de entrar num buraco negro e desaparecer.
- Raiva/revolta - Em vez de ter ficado deprimida depois deste estádio, eu decidi dar a volta e revoltar-me contra mim própria por me ter deixado sentir assim. Deixei a raiva tomar conta das minhas decisões, da minha postura. Não queria saber de nada, não sentia nada, nem tristeza, nem alegria, estava imune a qualquer tentativa de afecto. Foi então que deixei tudo para trás (família, amigos, amor) e aventurei-me na minha revolta, disposta a mudar tudo o que era.
- Aceitação - Para mim, este é dos estádios mais difíceis de alcançar. Eu permaneci no estádio da raiva mais tempo do que o que era recomendado. Acho que quando a revolta ataca por dentro (quando nos revoltamos contra nós próprios), deixamos ela propagar-se pelo nosso corpo, ao ponto de se fixar de tal maneira nas nossas entranhas que se começa a alimentar da nossa alma. Mas como diz a minha mãe "Para tudo há solução", e para mim não foi diferente. Bastou apenas um sorriso e voltei a acreditar em mim. Bastou um verdadeiro amor para seguir em frente.
E apesar de algumas cicatrizes ficarem marcadas na nossa alma, conseguimos sempre dar a volta e seguir em frente. E, por vezes, só é preciso um sorriso.